Julho Laranja e a ortodontia infantil
O Julho Laranja é uma campanha criada por um grupo de ortodontistas brasileiros, com o objetivo de conscientizar a população sobre a prevenção de más-oclusões em crianças.
Muita gente não sabe, mas existem tratamentos ortodônticos que podem ser feitos ainda na infância, na dentição decídua ou mista. Eles são indicados somente quando um problema de oclusão é identificado muito cedo, quando ainda pode ser corrigido antes que se consolide e exija um tratamento mais complexo no futuro.
Um estudo de 2010 que avaliou quase 5.000 crianças brasileiras entre 6 e 10 anos mostrou que 85% dessas crianças de tinham um problema de oclusão, e dessas, cerca de 60% tinham possibilidade de correção precoce.
E qual a grande vantagem do tratamento precoce?
Além de, em muitos casos, evitar tratamentos mais drásticos na dentição permanente, como extrações e cirurgias ortognáticas, o tratamento precoce ainda ajuda a melhorar a autoestima da criança, quando ela se incomoda ou sofre bullying por causa da aparência dos dentes.
Então, neste mês de julho, como minha parte na campanha, criei uma série de posts falando sobre quais são as alterações ortodônticas mais comuns que podem aparecer nas crianças e como deve ser o acompanhamento para identificar os problemas o mais cedo possível.
O que é má-oclusão?
A dentição humana tem uma ordem natural do posicionamento dos dentes e do encaixe entre os arcos, que é chamada oclusão. Ela foi definida durante a evolução do Homo sapiens, há centenas de milhares de anos. O arranjo da oclusão foi determinado pela natureza para que os dentes exerçam corretamente as suas funções, como morder, mastigar e auxiliar na fala e na deglutição.
Quando temos qualquer alteração nessa configuração normal, dizemos que o paciente tem uma má-oclusão, ou seja, uma oclusão que não está dentro dos parâmetros de normalidade.
Existem diversas e quase sempre elas têm um impacto negativo na função (mastigação, fala) e na estética do sorriso, o que pode comprometer a autoestima do paciente.
Mas por que elas aparecem? Por que, nos momentos em que oclusão está se formando, alguma coisa não dá certo?
Existem muitas causas possíveis e, com frequência, elas não aparecem de forma isolada, e sim a associação de vários fatores que se somaram. A literatura científica tem muitas formas de classificar as causas (que chamamos etiologia), mas, de uma forma simplificada, podemos dizer que existem causas pré-natais ou pós-natais (também chamadas de adquiridas).
Entre as causas pré-natais, estão as alterações genéticas, como padrões de crescimento não favoráveis, alteração na quantidade de dentes e algumas síndromes, e as más-formações que ocorre quando o feto está se desenvolvendo (ex.: lábio leporino).
As causas adquiridas podem ser traumatismos, cárie e perda precoce de dentes de leite; alterações hormonais e doenças sistêmicas, hábitos como sucção de dedo e de chupeta, e obstrução nas vias aéreas superiores com predomínio da respiração bucal.
Nos próximos 3 posts falarei um pouco sobre as principais delas. Fique atento(a). Até lá!
Referências bibliográficas:
MACHADO et. al., Dental Press J Orthod. 2000 nov-dez;5(6):107-129
GARIB et. al., Rev Clín Ortod Dental Press. 2010 abr-maio;9(2):77-97
GARIB et. al., Rev Clín Ortod Dental Press. 2010 jun-jul;9(3):61-73
GARIB et. al., Rev Clín Ortod Dental Press. 2010 ago-set;9(4):30-6
BITTENCOURT & MACHADO, Dental Press J Orthod. 2010 nov-dez;15(6):113-22