O que determina a forma de um rosto?
Você já se perguntou o que faz cada pessoa ter uma aparência tão única?
Com certeza você já observou a grande diversidade de faces entre os seres humanos. Existem pessoas de rostos redondos, quadrados, alongados, curtos, perfis retos, queixos proeminentes ou discretos… Dentro de cada etnia, pode predominar um determinado tipo de face. Na mesma família, podem ter pessoas muito parecidas – e, colocando duas pessoas aleatórias lado a lado, elas podem ser brutalmente diferentes.
E isso é bom, porque são essas características distintas que nos tornam reconhecíveis como indivíduos únicos! Nós, humanos, temos uma capacidade admirável de reconhecer e memorizar faces.
Já entre as crianças pequenas, nem sempre esses aspectos são tão marcantes. Algumas características, como forma do nariz e dos olhos, são logo perceptíveis, mas muitas só aparecerão com o tempo.
Por quê? Porque elas são ditadas pelo padrão de crescimento da face.
Todos nós nascemos com uma média de 3-4 kg, e chegamos à estatura de adultos por um processo chamado crescimento, em que os seres vivos aumentam progressivamente de tamanho à medida em que se desenvolvem, até a idade adulta.
De uma forma simplista, podemos pensar que muitas partes do corpo aumentam predominantemente em comprimento – vamos pensar em pernas, braços, mãos e pés, por exemplo. Mas, vamos analisar o crânio e a face: se compararmos a forma da cabeça de um bebê à de um adulto, podemos perceber que o crescimento dessa parte do corpo é tridimensional: as proporções mudam um pouco, mas a forma se mantém mais ou menos a mesma.
O crescimento da cabeça e da face pode ser analisado nos três planos do espaço:
Transversal: se olharmos a cabeça de frente, o crescimento transversal é o que aumenta a cabeça e a face em largura.
Vertical: é o crescimento que aumenta a face em altura.
Sagital: numa vista de perfil, o crescimento sagital aumenta a cabeça e a face em profundidade:
O crescimento em cada plano tem um reflexo diferente na forma da face e se manifesta na posição dos dentes.
Por exemplo, uma deficiência no crescimento transversal (comum em crianças com problemas respiratórios e hábitos de chupar dedo) leva a um estreitamento do arco superior, e pode levar a uma mordida cruzada, que é um problema na relação transversal entre os dentes.
O crescimento vertical define a altura da face – se o rosto é mais comprido ou mais curto – e influencia o quanto a pessoa expõe os dentes quando sorri ou quando os lábios estão relaxados.
E é principalmente no crescimento sagital que um ajuste muito importante precisa acontecer!
Nossos dentes de cima estão implantados em dois ossos pares (ou seja, existe um direito e um esquerdo) chamado maxilas, mais precisamente em uma região anatômica chamada processo alveolar. As maxilas estão unidas entre si e com o restante do crânio por ligações chamadas suturas, que, enquanto o indivíduo ainda está crescendo, são preenchidas por tecido mole e é através da proliferação de células nesses tecidos que o crescimento dos ossos acontece. Uma vez que a pessoa para de crescer, as suturas tornam-se praticamente rígidas.
As maxilas estão ligadas ao restante do crânio também por suturas, então seu crescimento é basicamente um reflexo pelo crescimento do mesmo, que é determinado geneticamente.
Já os dentes de baixo se inserem na mandíbula, um osso ímpar, que tem apenas dois pontos de ligação com o crânio:
– a articulação temporomandibular (ATM), que se encontra logo atrás dos ouvidos;
– a oclusão, ou seja, a relação entre os dentes de cima e o de baixo.
A mandíbula cresce principalmente aumentando a extremidade que forma a ATM, por meio de um crescimento cartilaginoso, semelhante ao crescimento das pernas e dos braços.
Por ser ligada ao restante do crânio por uma articulação móvel e não por suturas sólidas, a mandíbula é mais ou menos independente em relação ao crescimento. Existe um forte potencial genético, mas também é influenciado pela oclusão.
Para que, no final do crescimento, os dentes superiores e inferiores se encaixem bem, é preciso que o crescimento da mandíbula acompanhe o crescimento do restante da face de forma harmônica.
Quando isso não acontece, além de termos uma alteração do encaixe entre os dentes, provavelmente também vai se refletir na face.
O que determina o crescimento da face?
Basicamente, a genética – como para todo o resto do corpo. Os padrões de crescimento da face são herdados dos pais, e é por isso que, frequentemente, temos pessoas muito parecidas dentro de uma mesma família.
Mas o ambiente pode influenciar – certos fatores podem estimular ou conduzir uma mudança de direção do crescimento. Esses fatores podem ser naturais – como um contato anômalo entre os dentes que vai desviar a mandíbula da sua posição normal – ou induzidos, como, por exemplo os aparelhos ortodônticos ou ortopédicos.
É aí que entra o trabalho do Ortodontia: diagnosticar desde cedo as alterações e intervir de forma que o crescimento se dê da forma mais saudável possível, prevenindo alterações maiores na idade adulta! Por isso, dizemos que nós, ortodontistas, somos também ortopedistas da face.
Voltarei a esse assunto em breve, fique atento(a)! Até a próxima.
Vida longa ao seu sorriso! 🥂
As figuras das montagens foram retiradas de: RADLANSKI, R. & WESKER, K. A Face – Atlas Ilustrado de Anatomia Clínica. São Paulo: Quintessence, 2016.
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