O crescimento vertical
Porque somos seres em 3D e crescemos nos três planos do espaço!
Já falei sobre o crescimento geral da face e expliquei no último post como o crescimento sagital (aquele que faz a face aumentar em profundidade) é importante para o encaixe entre os dentes e a harmonia estética do nosso rosto.
Só que o crescimento sagital não está sozinho nisso isso, ele sofre muita influência do crescimento vertical, que é o que aumenta nossa face em altura!
De modo simplista, podemos dizer que quem guia o crescimento vertical é o crânio, ou seja, as estruturas ósseas que estão unidas firmemente entre si, da cabeça até a face. À mandíbula, que tem uma relação mais “livre” com o crânio, só resta adaptar-se.
Como? Girando.
Quando a face cresce exageradamente em altura, a mandíbula gira no sentido anti-horário, ou seja, como se deslocasse, ao mesmo tempo, para baixo e para trás.
Com isso, temos:
- A sensação de que a mandíbula é menor, e o queixo parece que está mais para trás.
- O perfil se torna mais convexo.
- Tem-se a sensação de que o rosto é mais longo.
- Muitas vezes, a pessoa expõe uma maior extensão de dentes e gengiva, tanto ao sorrir quanto no repouso.
- É comum que as pessoas com esse padrão só consigam fechar os lábios se fizerem certo esforço.
- Parece, visualmente, que a distância entre o nariz e os lábios é maior do que normal.
- Na oclusão, existe uma tendência à mordida aberta, ou seja, os dentes não se tocarem na região dos incisivos.
Chamamos esse padrão de face longa ou face alta.
Exemplo que pessoas aparentemente (depois explico por que não podemos afirmar com certeza) têm um padrão face longa:
E quando o contrário acontece?
Quando o crânio cresce menos do que deveria em altura, a mandíbula gira no sentido horário, ou seja, como se deslocasse para a frente e para cima.
Com isso, temos:
- A sensação de que a mandíbula é maior, e o queixo parece mais proeminente.
- O perfil se torna mais reto ou até côncavo.
- Tem-se a sensação de que o rosto é curto.
- Parece que a distância entre e o nariz e os lábio é menor que o normal.
- Normalmente, ao sorrir e falar, os dentes aparecem pouco, o que pode conferir à pessoa o aspecto de ter mais idade.
- Quando a boca está fechada, pode parecer que “sobra” um excesso de lábios;
- Com frequência, a mordida é profunda, ou seja, os dentes de cima se sobrepõem aos de baixo mais do que seria considerado ideal.
Chamamos a essas alterações de padrão face curta ou face baixa.
Exemplo de pessoas que parecem ter o padrão face curta:
Mas atenção!
Nem toda pessoa que tem o rosto comprido tem o padrão face longa, e nem toda pessoa de rosto curto tem o padrão face curta. Esses padrões se caracterizam por um desequilíbrio nas proporções, como reflexo de uma alteração no crescimento ideal.
Existem pessoas que têm o rosto longo e que têm o rosto curto, mas com as partes proporcionais entre si. As pessoas de rostos longos e proporcionais são chamados de dolicofaciais, e os que têm rostos curtos e equilibrados são chamados braquifaciais.
Scarlett Johanson é um exemplo de dolicofacial. Observe como o rosto é longo, mas proporcional. Rostos alongados passam uma sensação de jovialidade, não acha?
Kirsten Dunst é um exemplo perfeito de braquifacial. A proporção entre a altura e a largura da face são semelhantes, mas ela não parece ter as medidas entre nariz, lábio e queixo diminuídas. Sinal de que simplesmente esse é seu padrão genético.
Acima temos duas atrizes belíssimas que, apesar de seus rostos terem a proporção altura x largura fora da média, não apresentam as características faciais dos padrões desequilibrados.
Como saber se uma pessoa tem um padrão vertical normal ou alterado? Bem, precisamos fazer medições numéricas em fotografias de face padronizadas ou, melhor ainda, na radiografia lateral da cabeça, para qual existem análises para determinar o padrão facial. Como para as pessoas que mostrei aqui, só me baseei em fotos em ângulos não muito ideais, podemos ter uma ideia dos seus padrões faciais, mas não podemos afirmar com certeza.
Ah, e o Popeye? Vamos lá… Rosto curto, queixo proeminente, aparência de ter mais idade, pouca distância entre o nariz e a boca… O que você chutaria sobre o padrão vertical dele?
E quando um ter um padrão face longa ou face curta se torna um problema?
Ou quando o padrão facial se reflete em um problema de oclusão que precisa ser corrigido, ou quando o aspecto facial incomoda o paciente.
Os pacientes face curta geralmente se queixam (principalmente as mulheres) de aparentar mais idade ou terem um aspecto “sisudo”, por não terem uma exposição de dentes muito grande. Já os pacientes face longa se incomodam por mostrar dentes e gengivas demais, e não conseguirem fechar bem os lábios.
E como corrigir?
Assim como para as discrepâncias do crescimento sagital, se as alterações de oclusão forem leves, pode-se simplesmente adaptar a oclusão, como fechar ou abrir a mordida através de aparelhos ortodônticos, por exemplo. Mas, se o problema de oclusão for mais sério, ou o aspecto facial incomodar muito o paciente, a cirurgia ortognática pode ser uma excelente opção para melhorar o equilíbrio dos ossos da face.
Vida longa ao seu sorriso! 🥂
As figuras das montagens foram retiradas de: RADLANSKI, R. & WESKER, K. A Face – Atlas Ilustrado de Anatomia Clínica. São Paulo: Quintessence, 2016.