O crescimento sagital
A maxila cresce e a mandíbula tem que acompanhar, se quiser terminar com uma oclusão equilibrada e uma face harmônica. Será que vai dar tudo certo?
No último post, falei sobre como se dá o crescimento da face, como ele determina a aparência do nosso rosto e influencia no encaixe entre os dentes.
Todos os sentidos de crescimento são importantes, mas o anteroposterior (que aumenta nossa cabeça e face em profundidade) nos dá uma característica muito importante: a convexidade do perfil.
Se, numa vista de lado, traçarmos uma linha que vai do ponto entre as sobrancelhas até a base do nariz, e outra da base no nariz ao ponto mais proeminente do queixo, vai se formar um ângulo entre elas, que pode ser convexo, côncavo, ou formar uma linha praticamente reta.
A medida considerada padrão é um pouco menos do que 180°, ou seja, um perfil levemente convexo, como o da modelo abaixo.
Normalmente, faces que se distanciam muito dessa medida são consideradas menos harmônicas. Para as mulheres, costuma ser desejável um perfil tendendo à convexidade, e as faces masculinas aceitam perfis mais côncavos.
Mas pode existir beleza em todos os padrões, incluindo exceções às regras de gênero: uma mulher que é considerada uma das mais belas do mundo tem o perfil côncavo. Ela mesma, Angelina Jolie.
A ganhadora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante em 2014, Lupita Nyong’o, também tem um belo perfil côncavo:
Já a lindíssima Scarlett Johansson tem um perfil convexo. Observe como o queixo está atrás da linha que passa abaixo do nariz:
Olhando uma face de perfil, o ponto abaixo do nariz expressa o crescimento da maxila, e o ponto mais proeminente do queixo é reflexo do crescimento da mandíbula (sofre influência também do crescimento vertical, mas isso é assunto para o próximo post!).
Quando a maxila e a mandíbula crescem em sincronia no sentido anteroposterior, a tendência é gerar um perfil reto a ligeiramente convexo, dentro da medida padrão, e os arcos dentários se encaixam bem – é a normoclusão.
Porém, pode acontecer de ou a maxila crescer demais, ou a mandíbula crescer menos, ou ambas as situações combinadas. Nesse caso, o perfil tende a ser mais convexo, com a percepção de que o queixo é para trás – é o padrão retrognata. Normalmente, esse crescimento cria uma situação em que os dentes superiores vão estar à frente dos inferiores – é a distoclusão.
Em outras pessoas, ou a maxila cresce menos, a mandíbula cresce mais, ou os dois ao mesmo tempo. Os dentes inferiores vão estar à frente dos superiores, em uma condição chamada mesioclusão. Nesses pacientes, o perfil tende a ser mais côncavo – é o padrão prognata.
Uma curiosidade: nos bebês, a mandíbula é posicionada muito mais atrás da maxila, se compararmos com uma pessoa adulta. Na foto abaixo, é possível observar muito bem isso. Por essa razão, o crescimento da mandíbula acaba sendo bem mais intenso do que o da maxila, ao longo da infância.
E como tratar as alterações de crescimento anteroposterior?
Se o paciente ainda é criança ou adolescente e o ortodontista percebe um problema de crescimento, existem aparelhos que podem ser usados para conter ou estimular o crescimento da maxila ou da mandíbula. Por isso é importante que as consultas ao ortodontista comecem ainda na infância!
Uma vez que a pessoa esgotou seu potencial de crescimento facial – isso acontece mais ou menos aos 14 anos anos nas meninas e aos 16 nos meninos – não é possível mais interferir no crescimento anteroposterior. Então existem duas alternativas para corrigir a oclusão:
1- Compensação dentária: movimentamos os dentes para que a oclusão se encaixe o mais próximo possível do ideal, mesmo que os ossos não estejam nas posições corretas.
Muitas vezes, já existe uma compensação natural, numa tentativa do organismo de conseguir uma oclusão funcional. No caso da distoclusão, os incisivos inferiores de inclinam para a frente os superiores para trás, numa tentativa de se encontrarem, e a situação é inversa para a mesioclusão.
O tratamento ortodôntico para compensação pode envolver extrações de dentes permanentes para conseguir o espaço para a correção. Existem limites para a compensação, que é manter os dentes dentro dos ossos. Se a discrepância for muito grande, pode não ser possível compensar.
A compensação dentária consegue resolver o problema do encaixe entre os dentes, mas não melhora as características da face.
2- Cirurgia ortognática: essa cirurgia ataca a raiz do problema, que é o posicionamento dos ossos. Falo mais sobre ela aqui.
Na maioria esmagadora dos casos, ela não elimina a necessidade do tratamento ortodôntico, até porque o aparelho serve como referência para a cirurgia. Se já existe uma compensação natural, o que é muito frequente, ela precisa ser corrigida.
A cirurgia é mais indicada em casos em que a discrepância é tão grande que não permita compensação, ou quando o aspecto facial incomoda muito o paciente. A cirurgia ortgnática consegue melhorar as características da face, deixando-a mais equilibrada.
O crescimento vertical também influencia na posição da maxila e da mandíbula, podendo amenizar ou potencializar o padrão de crescimento anteroposterior. Falarei mais sobre isso no próximo post! Fique atento(a)!
Vida longa ao seu sorriso! 🥂
As figuras das montagens foram retiradas de: RADLANSKI, R. & WESKER, K. A Face – Atlas Ilustrado de Anatomia Clínica. São Paulo: Quintessence, 2016.